segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

«"Um nirvana de carteiro". Presenças do Budismo nas prosas de Pessoa», por Rui Lopo


Palestra de Rui Lopo / Seminário Internacional Fernando Pessoa e o Oriente, 1 de Março de 2013

Resumo

O questionamento histórico do cristianismo na cultura europeia implicou um amplo movimento filosófico-crítico que foi acompanhado pela descoberta e estudo das espiritualidades extra-europeias que o relativizaram. Neste quadro assiste-se ao surgimento das obras dos grandes teóricos oitocentistas da religião existente em simultâneo com a ampla expansão do movimento orientalista.
Procuraremos neste estudo situar Pessoa no quadro cultural do orientalismo filosófico português, passando depois a apresentar uma cartografia da diversidade de ocorrências do Buda e do Budismo na sua obra em prosa, classificando-as em função dos géneros cultivados, do momento cronológico da vida em que Pessoa se encontra ou do sujeito heterónimo de enunciação dessas diversas posições teóricas.
Na obra em prosa de Pessoa, mostraremos, em primeiro lugar, representações do budismo como um elemento constitutivo de vários projectos literários. Isto será exemplificado mostrando-se fragmentos destinados à peça dramática Shakyamuni, ou nas referências ao nirvana, o qual é tematizado como uma das metáforas que dizem a aniquilação da intranquilidade da alma, no Livro do Desassossego.
Por outro lado, procuraremos dar olhar para o vasto e complexo acervo pessoano (inédito e em organização) de notas pessoais de leitura, apontamentos reflexivos e fragmentos mais ou menos concatenados destinados a projectos de ensaios (de índole mais ou menos filosófica) a uma significativa presença de referências ao Buda e ao Budismo que atestam o grande interesse que Pessoa demonstrou pelo tema, o que o levou não só a realizar vastos e profundos estudos, como a registá-los integrando-os nos seus próprios projectos filosóficos. Assim, o budismo torna-se num dos elementos a convocar não só para estudar a busca filosófica, sapiencial, espiritual e religiosa que Pessoa empreendeu, – veja-se por exemplo a sua fase teosófica (onde o budismo é assumido positivamente) – como ele é decisivo para bem entender e demarcar as originais propostas teóricas que, a nível estético, moral ou da teoria da religião dão pelo nome de sensacionismo ou neo-paganismo, assinados pelo ortónimo, por Ricardo Reis ou António Mora (onde o budismo, por oposição, é criticado, a par do cristianismo e do humanitarismo).

Rui Lopo (Centro de Filosofia, UL)

Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi colaborador do projecto de estudo do espólio de José Marinho, depositado na Biblioteca Nacional de Lisboa. Tradutor de ensaio de língua francesa e inglesa. Prepara actualmente a redacção de uma dissertação de doutoramento intitulada “A Recepção Filosófica do Budismo na Cultura Europeia Oitocentista. Orientalismo e Representação da Universalidade” a apresentar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Membro da direcção da Associação Agostinho da Silva e do grupo de estudo do seu espólio. Membro do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira e do Instituto de Estudos sobre o Modernismo. Autor de diversos artigos, especialmente na área da cultura e filosofia portuguesa e da filosofia da religião.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

«Notas sobre presença arábico-islâmica em Fernando Pessoa», por Fabrizio Boscaglia

Resumo

Pretende-se ilustrar o interesse de Fernando Pessoa pela cultura arábico-islâmica através da análise dos principais momentos da obra pessoana em que este interesse se manifestou. Será abordada tanto a presença de Omar Khayyām no pensamento e na obra de Pessoa, como a importância da componente cultural arábico-islâmica no iberismo pessoano e ainda a raiz arábico-islâmica do sensacionismo e no neo-paganismo de Pessoa, tal como o autor a descreveu e defendeu. No que diz respeito à metodologia, será dada particular atenção ao diálogo intertextual entre documentos do espólio e da biblioteca particular de Pessoa.


Fabrizio Boscaglia (Centro de Filosofia, UL)

Membro do Centro de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, desenvolve uma investigação sobre a presença arábico-islâmica e persa no pensamento e na obra de Fernando Pessoa. É autor de Considerações sobre a presença do elemento arábico-islâmico no sensacionismo e no neo-paganismo de Fernando Pessoa(Al-Barzakh, 2012). Participou no projecto de digitalização da biblioteca particular de Fernando Pessoa na Casa Fernando Pessoa de Lisboa. Colabora como docente em Cursos de Especialização na Universidade de Lisboa. É membro do conselho editorial da Revista Cultura Entre Culturas. É conferencista e autor de publicações sobre literatura e filosofia em Portugal e no estrangeiro.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

«O abismo é o muro que tenho / Ser eu não tem um tamanho»: a poesia de Fernando Pessoa e a desconstrução budista da noção de «eu», por Paulo Borges

Resumo

Procuramos, a partir deste e de outros poemas de Fernando Pessoa, apontar afinidades e contrastes com a desconstrução budista da noção de "eu" como uma id-entidade substancial, existente em si e por si, separada e permanente. Pretende-se mostrar que, enquanto a via do Buda configura um caminho do meio entre essencialismo e niilismo, já o pensamento e a experiência pessoanos oscilam entre esses dois extremos.

Paulo Borges (Centro de Filosofia, UL)


Professor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.
Membro correspondente da Academia Brasileira de Filosofia.
Director da revista Cultura ENTRE Culturas.
Sócio-fundador e membro da Direcção do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira.
Sócio-fundador e ex-vice-presidente da AIEM – Associação Interdisciplinar para o Estudo da Mente.
Presidente da União Budista Portuguesa e da Associação Agostinho da Silva.
Presidente da Direcção Nacional do Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN), pelo qual foi cabeça de lista por Lisboa nas Eleições Legislativas de 2011. 

Autor de centenas de conferências e artigos em revistas científicas e obras colectivas, publicados em Portugal, Espanha, França, Itália, Roménia, Alemanha e Brasil, bem como de 22 livros de ensaio, poesia, ficção e teatro. Publicações mais recentes:  

Uma Visão Armilar do Mundo. A vocação universal de Portugal em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, Lisboa, Verbo Editora, 2010.
Descobrir Buda. Estudos e ensaios sobre a via do Despertar, Lisboa, Âncora Editora, 2010.
Agostinho da Silva: penseur, écrivain, éducateur, Paris, L’Harmattan, 2010 (organizador com Idelette dos Santos e José Manuel Esteves).
Olhares Europeus sobre Fernando Pessoa (organizador), Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2010.
“A Questão dos Direitos dos Animais”, estudo incluído na obra de Hélder Martins Leitão, A Pessoa, a Coisa, o Facto no Código Civil, Porto, Almeida & Leitão, 2010.
O Teatro da Vacuidade ou a Impossibilidade de Ser Eu. Estudos e ensaios pessoanos, Lisboa, Verbo, 2011.
“Posfácio” a Fernando Pessoa, Philosophical Essays: a critical edition, organizado por Nuno Ribeiro, Nova Iorque, Contra Mundum Press, 2012.
Il teatro della vacuità o l’impossibilità di essere io. Studi e saggi pessoani, Milão, Bietti, 2013 (no prelo).

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

«Pomposo, fanático e quente», por Duarte Braga

Resumo:

Nos «dois Excerptos de Odes», Álvaro de Campos transmite uma verdadeira síntese imagética da tradição literária orientalista europeia, trabalhando conscientemente com uma dimensão estereotípica. Esta ser-lhe-á útil para a apresentação de um Oriente que não é conhecível na sua especificidade histórica e geográfica, e que lhe interessa sobretudo como um símbolo. Se, neste mapa simbólico da civilização, o Ocidente é “tudo o que talvez seja o Futuro”, o Oriente ocupa naturalmente o lugar da origem, uma origem que obedece ao paradigma do arcaico, enquanto a-histórico e primitivo, mas também como locus da sabedoria primordial.

Duarte Drumond Braga é doutorando em Estudos Comparatistas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, investigador do Centro de Estudos Comparatistas da mesma faculdade e bolseiro da FCT. Tem trabalhado sobre representações do Oriente e das religiões da Ásia na literatura de língua portuguesa (Portugal e Goa), bem como sobre literatura portuguesa finissecular e poesia portuguesa contemporânea. O seu projecto de Doutorado analisa a forma como a poesia portuguesa dos séculos XIX e XX tratou a questão do Oriente. Organizou com Paulo Borges o volume de ensaios Buda e o Budismo no Ocidente e na Cultura Portuguesa (2007); com Everton V. Machado o colóquio ACT 27 – Goa Portuguesa e Pós-colonial (2012). Actuou como docente na licenciatura em Artes e Culturas Comparadas da FLUL e no Curso de especialização em Filosofia e Estudos Orientais da mesma faculdade.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

«Literatura, Filosofia, Religião para além de outro Oriente», por Antonio Cardiello

Resumo:

O confronto com paradigmas antropológicos, espirituais e estéticos contrários aos mais sólidos monismos científicos e religiosos de raiz ocidental assume, em Pessoa, as coordenadas de uma cartografia constituída pelas mais diversas vozes de filósofos e poetas descobertos graças ao seu fervoroso “vício” pela leitura. Nelas, cumprem-se as viagens nunca feitas de quem revisitou o Oriente em inúmeras ocasiões, juntando às projecções das mais influentes tradições milenárias novas configurações culturais do saber.

Antonio Cardiello é doutor em filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro investigador do Centro de Filosofia do mesmo instituto. 
Autor de conferências, vários artigos em revistas científicas, jornais e obras colectivas, interessa-se pelo pensamento português contemporâneo e pela aproximação entre tradições filosóficas ocidentais e orientais.
Com Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari coordenou o projecto de digitalização e colocação on-line da biblioteca particular de Fernando Pessoa (Abril 2008 - Outubro 2010). Co-editou a primeira edição crítica da Prosa de Álvaro de Campos, Lisboa, Ática, 2012.